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O monstro da educação sexual e gênero escondidos no armário

“Se a gente começa a repudiar esse assunto vamos matar seres humanos, matar pessoas. Criando um buraco ou até mesmo uma descaracterização dessa criança” Silvana Bezerra, diretora e ativista.

POR:

Camila Monteiro

18 de Novembro | 2019

Uma pesquisadora chamada Mary Neide Figueró, relatou que menos de 20% das escolas públicas tem algum projeto amplo sobre educação sexual nas escolas de ensino fundamental voltado para crianças e adolescentes. Outra pesquisa que chamou atenção que é da DataFolha que entrevistou 2077 da população de 319 municípios, indicou que 54% delas são a favor da educação sexual nas escolas. Assim também como dependem a discussão sobre a política nas escolas. Em contraponto, 44% não querem que o tema seja debatido em salas de aula.

 

Para enfrentar esse tabu, esta reportagem trata do universo de adolescentes de 12 a 16 anos que poderiam saber não só de doenças sexualmente transmissíveis e gravidez indesejada. Mas também do colega que está conhecendo o seu corpo e sua identidade enquanto cidadão. Mas sabemos que o tabu não é só existente dentro das escolas, mas também, em âmbito familiar.

 

A sexóloga e psicóloga Michelle Sampaio acredita a responsabilidade não deveria ser deixada na “mão” das escolas e nem da família, mas acredita que se o conteúdo fosse com mais clareza e profundidade, seria de suma importância. Porém ela relata que levar esse assunto para a sala de aula, teria que ser uma ação discutida com alunos e pais desses alunos. Ela relata um caso em que um adolescente participou de uma discussão sobre sexualidade em sala de aula e ao chegar em casa e contar o que ouviu, e isso algumas vezes não foi bem compreendido pelos pais “(...) levar o conteúdo na escola às vezes faz com que o adolescente chegue em casa contando o que aprendeu e isso pode abrir portas. Mas eu também já tive casos de o adolescente chegar em casa contando e os pais basicamente trocar o adolescente de escola. Então quando a escola vai promover uma educação em sexualidade, é interessante que ela também discuta isso com os pais dos alunos (...)”.

 

A puberdade tem início entre 8 e 15 anos tendo já a produção de hormônios chamado hipófise, que libera os hormônios sexuais e que colocam em atividade nos ovários e testículos. Os principais hormônios nas mulheres, são chamados de estrógeno e progesterona. Nos homens a testosterona. A sexóloga e psicóloga Michelle, esclarece algumas sobre o período da puberdade, quando o corpo passa por grandes transformações com a produção de hormônios “(...) a gente vai considerar que ele já está no período pós-hormonal e o período pré-hormonal seria pensarmos até uns 8 ou 9 anos, depois disso ele já entra no período pós-hormonal. Os adolescentes estão produzindo mais hormônios tantos meninos quantas meninas para começar o desenvolvimento das características de cada gênero. Então desde crescimento de pelos, aumento dos seios e aumento de testículos, tudo isso vai acontecendo nesse período hormonal. Período onde eles vão começar a ter mais curiosidade sobre como funciona essa questão da sexualidade (...)”.

 

Ela ainda ressalta que os adolescentes passa a ser “bombardeados” de informações pela mídia, ou seja, pelos meios de comunicação que está ao derredor desse adolescente que está começando sua vida sexual ativa “(...) ele tá recebendo muita informação por causa dos meios de comunicação hoje mas não necessariamente ele tem maturidade para absorver tudo que ele vê. Então ele tem muito acesso, mas é fundamental que ele possa ter uma conversa dirigida sobre isso (...)”.

 

Em outro aspecto, a sexóloga nos traz por meio de um estudo que ela mesma fez, que a educação americana é bem parecida com a nossa. Quase não se fala de educação sexual e quando se fala é focada para não engravidar. Outro enfoque é o método contraceptivo, mas é algo superficial sobre o assunto. Com o decorrer de seu depoimento, ela diz “(...) a gente não fala que é o termo que hoje eles têm até usado mais na Europa a educação em sexualidade que falar dos sentimentos quer falar também do lado bom da vivência do sexo. Porque algumas pessoas acham que falar sobre isso você vai encorajá-las, ou seja, induzir o adolescente a fazer sexo. Pelo contrário. As pesquisas mostram que quanto mais educação e sexualidade você oferta para os adolescentes você vai ter menos exposição a DST e vai correr menos risco de gravidez precoce (...)”.

Em uma outra entrevista com uma outra sexóloga e psicóloga chamada Mirian Lopes Valente, ela apresenta um ponto importante como nesta fala “(...) a Educação Sexual é fundamental não apenas para quebrar tabus, mas para ensinar sobre os aspectos cognitivos, físicos, emocionais e sociais da sexualidade. A Educação Sexual não deve apenas focar nos aspectos da fisiologia e anatomia sexual e reprodutiva, mas deve tratar de outras dimensões da sexualidade, como igualdade de gênero, amor, identidade de gênero, e outras discussões contemporâneas, tais como sexting, cyberbullying, entre outros temas, que podem afetar a saúde sexual e emocional dos adolescentes”.

Ou seja, além da importância na vida sexual ativa que esses mesmos adolescentes vão começar a ter, o quanto mais esclarecedor for, a sua parte emocional como dentre outras partes dendê a ganhar com tudo isso. Ela ainda continua de forma sucinta que “Uma Educação Sexual ampla que possa abranger os aspectos biológicos, sociais e políticos da afetividade e da sexualidade humana é uma iniciativa importante e fundamental pois contribui para a formação de estudantes para agir com responsabilidade, tomar as decisões com base em princípios éticos, acolher a diversidade sem preconceitos e cuidar emocionalmente de si e dos outros”.

 

Podemos observar o quanto estamos retrocedendo a um assunto que para muitas pessoas, não é permitido falar pois “estimula” a vida sexual do adolescente e aonde ele se encaixa em um gênero que este adolescente não tem o compreendimento mínimo do que seja. Quando falamos de gênero, não falamos de orientação sexual. O gênero é o que você se identifica. Como por exemplo transgêneros que não se identificam com o gênero e passam pela transição (ou não necessariamente) para se auto identificar. Orientação sexual é aquilo que nos atrai, ou seja, a atração do mesmo sexo para homens são os homossexuais e para as mulheres, são lésbicas.

É algo complexo e que parecem ser semelhantes, mas tem grande diferença um do outro. E compreender gênero e educação sexual se tornou uma necessidade de que temos que tratá-lo com urgência. É urgente que tratemos do assunto de forma natural e que seja não um assunto não para induzir a vida sexual, mas sim, para que o adolescente identifique o que ele pode ser perante a uma sociedade.

No livro “identidade pós modernidade” pelo autor Stuart Hall, é chamado de “crise de identidade”, pois é algo que está em mudança, ou seja, coisas impostas pela sociedade estão se deslocando. O sujeito rompe essa barreira que é dada como ordem segundo a qual ele era no passado em cima de estruturas que neste atual período, apresentam-se totalmente deslocadas, ou seja, o que ele lhe virá ser futuramente desconfigurou o que ele era em seu passado. Mas concordemos que para chegar a tal conclusão ainda mais para o assunto de sexualidade e gênero, esse sujeito que falado, é o adolescente em sala de aula que poderia estar começando a se identificar.

Em uma entrevista com Silvana Bezerra uma ativista, especialista em educação e diretora de uma escola ela diz por exemplo que “(...) essa demanda de representantes que é tomado, ou seja, possuídos pela ignorância total e absoluta (...)”. Repudia a atitude de João Dória, atual governador do estado de São Paulo que recolheu apostilas do ensino fundamental que falava sobre gênero e educação sexual para os adolescentes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

E ainda ela continua “(...) você tem uma produção de um material que vai tratar de uma questão que é fundamental e não tem como tirar isso do cenário educacional e jogar isso para o cenário familiar. Primeiro que dentro da família a demanda de trabalho é muito grande e o afastamento familiar devido a questão da mídia, a questão da falta de tempo e devido a uma série de coisas a família não tem tempo para trazer para si essa demanda que é importante para ser discutida. Por mais que o João Doria e o governo não entenda, a escola ainda é o maior mecanismo de comunicação e de transmissão de conhecimento”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Esses mesmos alunos do oitavo ano do ensino fundamental, ficaram sem material devido a essa atitude de recolhimento do material que o governador determinou. Com esse acontecimento, Silvana em seu depoimento ainda fala “(...) nós temos que pegar esses acontecimentos e trabalhá-los dentro da escola. E o que ele fez foi tirar a oportunidade de a gente estar diante de uma material super importante e bacana. Um material que precisava estar em mãos para poder discutir, para você ter um referencial (...)”. E ela ainda continua “Porque se você enquanto profissional, enquanto professor produz esse material você corre o risco de ser chamado de tendencioso, corre um risco de responder a um processo porque você vai ‘induzir’ o adolescente a fazer sexo ou a ser homossexual. Esse material iria ser passado só do sexto ano para frente (...)”. Com o relato da ativista podemos ver que é praticamente tirado o direito do conhecimento dessa identidade e do conhecimento que cada adolescente tem o direito de ter.

 

Esses mesmos alunos do oitavo ano do ensino fundamental, ficaram sem material devido a essa atitude de recolhimento do material que o governador determinou. Com esse acontecimento, Silvana em seu depoimento ainda fala “(...) nós temos que pegar esses acontecimentos e trabalhá-los dentro da escola. E o que ele fez foi tirar a oportunidade de a gente estar diante de um material superimportante e bacana. Um material que precisava estar em mãos para poder discutir, para você ter um referencial.

 

Assim como o relato de um adolescente de 15 anos que ao ser questionado sobre o que é e o se aprende sobre educação sexual e gênero relata “Eu sei o básico e esse básico, muita das vezes eu mesmo pesquisei na internet, porque na escola não é falado. Foi falado quando eu estava no oitavo ano em torno de sete aulas e só (...)”. E em outra questão, ele também relata “a professora até quer falar sobre o assunto, mas também os alunos atrapalham o que ela quer falar. Com piadas e ironias, ela simplesmente fala que quem quiser saber, pesquise. E esse assunto a professora passa em prova, mas só consegue responder à questão quem pesquisou em casa”. O que chama mais a atenção é que, não é abordado com frequência um tema de suma importância, mas foi passado para avaliação.

 

Em outra entrevista com uma adolescente de 13 anos, foi indagado sobre como tal assunto e ela pontua em outro ponto de vista “(...) nenhuma aula é falado sobre educação sexual e gênero. Eles não comentam o básico que seria sobre prevenção e gravidez precoce por exemplo. O pouco que sei sobre gênero é pela minha irmã que é lésbica e me conta sobre”. Ela também aborda que sobre o assunto da gravidez precoce que aparece de forma expressiva o número de garotas gravidas precocemente dentro da instituição escolar “(...) tenho conhecidas que estão ou já ficaram grávidas.

 

Como por exemplo uma garota do 5º ano do ensino fundamental, já estava grávida. E eu estou indo para o 8º ano do ensino fundamental e nunca falaram disso. Se analisarmos as duas falas desses dois adolescentes, vimos que a diferença é mínima de como tratam sobre o assunto em sala de aula. Um adolescente que sabe sobre assunto, mas é algo superficial que não é passado com transparência como deveria ser. Já em contraponto, a garota adolescente fala que isso em hipótese alguma é trabalhado na instituição de ensino e que pela falta de informação já tem esses reflexos em garotas das mesmas idade e até mesmo, mais novas que ela.

 

Em algum dos episódios de ensino fundamental, a professora Lucinéia foi uma das que tentou modificar esse ensino. Lucinéia foi professora do ensino fundamental da rede municipal do estado de São Paulo e sempre que podia, diversificava seu ensino dentro de sala de aula. Claro que tudo o que os adolescentes adquiriam de novo em sala de aula, contavam para os pais como foi dito aqui anteriormente. E com esses episódios que eram considerados novos para os adolescentes, muitos dos pais questionaram o seu modo de trabalhar em reuniões de pais ou até mesmo indo na secretária da escola querendo algumas explicações.

 

A professora sempre procurava entender também o lado dos pais tendo em vista, não julgar o modo que a família via tal assunto que foi abordado em sala de aula. Explicava ela em seu modo de ensino que era importante todas as crianças saberem do que seu corpo era capaz e do autoconhecimento para que se vivesse em uma sociedade que era repleta de informações vindo de todos os lados e maneiras. Com isso, claro que existia o medo desses mesmos pais não receber o assunto com o devido comportamento, ou seja, de um assunto natural como qualquer outro mas, mesmo tendo esse contato com esses pais que não achava louvável suas justificativas que lhe dera na hora, sempre foi muito elogiada pelo o que ensinou e pela mensagem que através do seu ensino, era compreendida por todos os que estavam ali para aprender. Sua aula para seus alunos e convida aos pais a serem participativos junto com eles. A contraponto de somente falar de gravidez precoce e o uso de camisinha - que são também de extrema importância – ela conseguia com dinâmicas em sala, ensinar e ao mesmo tempo ser algo divertido, porém com conhecimento sobre o corpo.

 

E é assim como a ativista fala “(...) chama a família para a escola e pontua o assunto com a família. E com isso, verifica como é o pensamento da família como que ela encara essa questão (...)”. Ou seja, a escola tem que ser o maior meio de junção, de união com professores, pais e alunos. Não importando o quão a família pode ser conservadora, mas sim, que a escola seja tão próxima dos pais quanto podem ser dos filhos. Assim como a sexóloga lançou em sua fala, a responsabilidade é de ambos os lados. E tendo isso em vista, isso pode ser de extrema importância como citado para o adolescente em consideração a desconstrução social e pessoal que ele virá a ter, mas também, os pais que vão aprender juntos. Ou seja, não seja um conhecimento só segmentado para adolescentes ou só dentro de âmbito escolar, será algo em que professores, funcionários da escola e os pais vão aprender e dessa maneira dinâmica como foi falado, isto é, que os pais participem com palestras e debates em grupo onde todos possam falar e representar suas ideias e indagações.

Portanto, foi possível através de diversas vertentes e experiências compreender o quão complexo é a transmissão da informação sobre educação sexual e gênero nas escolas. Assim, considerando que a responsabilidade é compartilhada entre Estado, escola e família é imprescindível que todos andem em concordância. Por fim, consequentemente diminuindo as estatísticas ligadas à bullying, discriminação, gravidez precoce, DST's e preconceitos.

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